São
João da Cruz
A medida que a noite se aproxima,
faz-me de novo lembrar que a
alma que caminha no amor, na renúncia,
não descansa nem se cansa.
Embora eu sofra a escuridão
nesta vida mortal,
isso não é algo tão difícil;
porque, se me falta luz,
tenho a vida celestial.
Pois, quanto mais cego é o amor,
mais dessa vida ele proporciona
conservando a alma em total abandono,
vivendo sem luz, na escuridão.
...descobrimos que jamais
iremos compreender a verdade
enquanto dependermos nossa própria luz;
que jamais iremos compreender a Deus,
enquanto estivermos apegados às suas
criaturas...
....não vá se tornar um daqueles principiantes
complacentes
que, em sua presunção espiritual,
condenam publicamente os outros,
preocupando-se mais com o cisco
no olho de seu próximo
do que com a trave de seu próprio olho....
...quando nos orgulhamos de nossa sabedoria,
tornamo-nos, como adverte São Paulo,
tolos......
...Ah!
se apenas soubéssemos
dos inúmeros bens
e da abundância espiritual que perdemos
por não nos esforçarmos em elevar nossos
desejos
acima das coisas infantis!...
...nossas paixões
vão drenando nossa energia,
deixando-nos excessivamente cansados
para a jornada espiritual.
São como criancinhas irracionais
Exigentes, impossíveis de contentar,
chorando constantemente
por isso ou aquilo...
...vivemos insatisfeitos com nós mesmos,
indispostos com o nosso próximo,
preguiçosos em nosso relacionamento com Deus.
Com nossa força espiritual enfraquecida,
adoecemos....
...Nossa subida espiritual é uma jornada pela
noite escura.
A fé nossa única luz
nas horas que se seguem à meia noite,
quando tudo aquilo de que temos dependido
não mais pode indicar o caminho....
...Precisamos nos mover
do conhecido para o desconhecido,
da luz do dia para a noite escura da fé...
...Deus se aproxima
envolto em uma luz ofuscante
que, aos nossos olhos, é escuridão.
Na mesma escuridão
Fazemos nossa subida....
... descobrir a luz da fé
é como ter nascido cego
e então começar a ver cores
que jamais se havia visto....
Quando vemos com os olhos da fé,
Estamos vendo na escuridão....
... se na subida você não for deixando para
trás cada degrau
por causa de seu desejo de permanecer em um
deles,
você nunca irá para frente.
Certamente nunca atingirá o topo e a paz
prometida –
a paz que o levou a se dispor
a dar o primeiro passo....
...Deus o restaura com um silêncio mais
profundo,
com uma calma mais imperturbável,
com uma paz mais
intensa...
...O indício mais verdadeiro
de que o espírito nos esta consumindo,
é o fato de termos chegado a apreciar
a solidão no silêncio...
....quanto mais você se acostumar
com essa tranqüilidade de espírito mais
profunda,
mais crescerão seu conhecimento sobre Deus
e seu amor por ele.
Sem nenhuma tensão paralisante,
Você conhecerá uma paz mais intensa,
Uma alegria mais duradoura....
“O nosso conhecimento é limitado.
Mas, quando vier a perfeição,
O que é limitado desaparecerá.”
....deixar as portas abertas de nossa alma para
permitir a entrada de Deus,
[
] somente assim
ele descerá sobre nossa alma como um rio de paz
para nos libertar de nossas incertezas,
de nossos pequenos aborrecimentos,
de nosso medo da escuridão....
Quando permitimos
que nossas lembranças
e nossa imaginação
atravanquem nosso coração,
resta pouco
ou nenhum espaço para Deus.
Até que aprendamos
a esquecer e a abrir mão
das exigências de nossas paixões
e aprendamos a disciplinar nossa memória
e nossa imaginação,
nosso coração esta destinado
a ficar sempre em tumulto;
nossa alma, nunca em paz.
... para sermos verdadeiramente esperançosos,
é
necessário que esvaziemos nossa alma
de tudo aquilo que não é Deus,
de todas aquelas imagens e noções de Deus
criadas por nossa imaginação
e guardadas em nossa memória.
Precisamos, antes de mais nada,
entender que nossa intimidade com Deus
não é mensurada pelos vislumbres imaginativos
que dele temos
ou por quaisquer outras experiências
“espirituais”.
É mensurada, sim, pela sinceridade de nossa
humildade...
Ao nos desligarmos das coisas,
passamos a possuí-las em liberdade;
ao nos apegarmos a elas,
tornamo-nos sua presas...
enquanto não obtivermos triunfo
sobre nossos sentidos,
jamais conheceremos
a serenidade e a paz tranqüilas,
a alegria duradoura
da vida vivida em Deus.
Jamais desfrutaremos
da suavidade pura da união com Deus
enquanto nos satisfizermos
com as consolações passageiras desta vida.
