segunda-feira, 14 de março de 2016

EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA - O VALOR DAS PALAVRAS - JORGE WAXEMBERG

Explicação Necessária

(para ler o livro na íntegra acessar o site: www.cafh.org - idioma português - publicações)

Quando conseguimos vulnerabilidade, em vez de nos ofender ou nos irritar quando alguém nos diz algo que não condiz com a opinião que temos sobre nós mesmos, abrimo-nos para aprender sobre a impressão que causamos nos outros com nossas atitudes e ações. Essa impressão define o que somos para os outros no meio em que vivemos.


As explicações são uma das formas mais comuns que utilizamos para defender o que pensamos, sentimos e fazemos. Embora nem sempre sejam necessárias, sentimos que temos que dar explicações quando um comentário ou uma situação coloca em destaque algum erro ou equívoco nosso, ou que temos que pedi-las quando cremos perceber as faltas de outros.
É óbvio que temos que dar explicações quando é justo que nos peçam ou quando temos a obrigação de dá-las. Por exemplo, porque o nosso trabalho o exige ou porque fizemos modificações em tarefas que afetam as dos outros. Mas quando não é assim e damos explicações, convém que reflitamos por que as damos –e também por que as pedimos, quando assim o fazemos–.
Quando alguém faz algo diferente do que esperávamos que fizesse, costumamos reagir com raiva e, em vez de expressar com clareza o nosso desgosto, pedimos-lhe uma explicação que não queremos receber. Por exemplo, dizemos “Por que fez isso?”. Quando nos respondem com razões, nós as rechaçamos e começamos a discutir. Melhor teria sido expressar-lhe de forma simples o que sentimos pelo que fez.
Da mesma forma, quando pedimos explicações a alguém porque algo nos desagrada em seu comportamento –em vez de dizer-lhe o que sentimos ou pensamos sobre seu comportamento– é comum que essa pessoa se irrite mais do que se lhe assinalássemos algum erro ou um esquecimento, e comece a dar justificações para não assumir sua forma de agir. Por um lado, expressamos uma reprovação; por outro, sentimos que não somos escutados porque nos respondem com desculpas. Este sistema de reações em nossas relações é triste e resulta em tensão e mal entendidos.
Até pode ocorrer que, quando alguém nos chama a atenção sobre tarefas que efetuamos, também demos explicações para dissimular nossas falhas e fugir assim de julgamentos que não nos agrada escutar.
Estes tipos de explicações são justificações, uma das formas mais comuns de autodefesa. Essas justificações se opõem a nossa lucidez porque com elas escondemos de nós mesmos nossas faltas e debilidades. Também se opõem a nossa capacidade para trabalhar sobre aspectos nossos que poderíamos –ou teríamos– que melhorar. Porém o mais importante é que, se quem nos chama a atenção está certo quando julga como equivocada uma decisão ou um comportamento nosso, o que fazemos com nossas justificações é negar-nos a aceitar que o que nos disseram estava certo.
Ou seja, negamo-nos a refletir e a revisar nosso comportamento ou nossas decisões. Este é um dos casos em que geramos a exclamação “ele não escuta” por parte de quem está nos falando.
Além disso, se dermos lugar para que nos deem justificativas, ou se exigimos de alguém explicações quando estas não são necessárias, estimulamos suas defesas impulsivas e enfraquecemos sua possibilidade de compreender sua maneira de agir.
Por esta razão, o exercício de não dar explicações implica também o de não pedi-las quando estas não são necessárias.
Por outro lado, as explicações são um dos meios através do qual voltamos a gostar de nossos acertos e a afastarmos de nossa mente os nossos erros.
É comum que quando fazemos algo bom tenhamos o desejo de comentar e explicar o que fizemos. Cada vez que explicamos voltamos a gostar de nosso êxito.
Também é comum que quando, por preguiça ou por falta de hábitos adequados, não podemos cumprir algo que temos que fazer, sintamos a necessidade de explicar por que não podemos fazê-lo. Cada vez que explicamos nos convencemos de que causas alheias nos impediram de fazer o que tínhamos que fazer.
Esses comentários deterioram a conversação e também a nossa relação com os demais. É pouco provável que os que nos escutam sintam prazer pelas nossas intenções de lhes inspirar admiração ou lástima por nós.
O exercício sobre as explicações necessárias consiste em:
  • Não fazer comentários sobre nossas ações, nem para avaliá-las nem para validá-las
  • Não dar justificativas quando alguém expressa sua crítica em relação a algo que fizemos
  • Deter em nossa mente os movimentos de desgosto que não manifestamos nesse momento, caso os tenhamos.
  • Expressar com clareza que reconhecemos os erros ou enganos que cometemos.

A primeira consequência deste exercício é que os fatos fiquem em nossa memória tal como são; isto nos ajuda a não repetir erros.
A segunda consequência deste exercício é que ganhamos um grande espaço mental porque não o preenchemos com uma contínua argumentação para nos justificar ou para condenar a conduta de outros.
Além disso, ganhamos tempo concreto porque não o gastamos dando longas explicações que não mudam o que já aconteceu.
A terceira consequência deste exercício é que nos acostumamos a ver e a entender as coisas como são e não como gostaríamos que fossem.
O ideal seria não sentir a necessidade de dar explicações desnecessárias; para conseguir isso podemos começar aceitando as nossas limitações e as dos demais, e habituando-nos a não gastar inutilmente nosso tempo nem o dos outros com explicações que não são necessárias.
Outro objetivo deste exercício é fazer-nos vulneráveis para poder aprender.
Ser vulnerável é reconhecer nossa ignorância não só em relação a aspectos ainda desconhecidos da realidade, mas também em relação a quem somos para os outros, especialmente para aqueles com quem convivemos. Quando alcançamos vulnerabilidade, em vez de ofender- nos ou irritar-nos quando alguém nos diz algo que não condiz com a opinião que temos sobre nós mesmos, abrimo-nos para aprender sobre a impressão que causamos em outros com as nossas atitudes e ações. Essa impressão define o que somos para os outros no meio em que vivemos.

Para quem lê um livro, o que este diz não é que está escrito nele, mas o que se entende quando se o lê. Talvez o que se entende não seja exatamente o que o autor quis dizer, mas esse entendimento é a base sobre a qual o leitor julga o livro. Da mesma maneira, se queremos nos conhecer, não é o que pensamos sobre nós o que tem que nos importar, mas a maneira como os demais percebem e interpretam as nossas palavras e atos. Os que nos rodeiam são o espelho onde temos que nos observar para aprender sobre nós mesmos. 

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