quinta-feira, 10 de março de 2016

PONDERAR O QUE DIZEMOS - O VALOR DAS PALAVRAS - JORGE WAXEMBERG



Ponderar o que dizemos


                                            Escutar
                          Ponderar o que dizemos é prestar atenção ao que implicam 
              tanto nossas palavras quanto nossa intenção e nossa atitude ao dizê-las.


Você não escuta!” Quantas vezes dizemos –e nos dizem– estas palavras? O certo é que com muita frequência não nos sentimos ouvidos quando falamos. Nosso interlocutor pretende prestar atenção ao que dizemos, mas é evidente que nossas palavras não causam nenhum efeito nele. Mantém seus juízos, apreciações e explicações como se o que dissemos não tivesse valor nem fosse digno de alguma consideração.
O hábito de não escutar é uma forma de nos defendermos do que nos desgosta ou nos fere. Por exemplo, se nos dizem algo que é verdade, mas não queremos admitir isto abertamente, uma forma de nos defendermos é continuar a conversa como se não tivéssemos ouvido o que nos disseram.
Outra forma de não escutar é dar explicações quando nos dizem algo que não queremos ouvir. Por exemplo, se alguém nos diz que tivemos uma conduta torpe, costumamos responder, para nos conciliarmos, dizendo que não foi nossa intenção, que fizemos o que achávamos que seria melhor etc. É evidente que, além de não escutar, não percebemos o que essa pessoa sentiu devido a nosso comportamento. Teria sido muito mais simples e útil que tivéssemos reconhecido com sinceridade seus sentimentos e nos desculpássemos com poucas palavras. Ao não fazermos assim, manteríamos vivo um desentendimento –ou uma disputa– que deterioraria progressivamente nossa relação com ela.
Em algumas ocasiões não escutamos porque o que o que é dito nos aborrece ou não nos interessa. Fazemos associações, pensamos em outras coisas ou em decidir o que faremos quando o nosso interlocutor terminar de falar. Não nos damos conta de que, para quem nos fala, tem importância o que diz, mesmo que seja algo que nós já sabemos. Por exemplo, quando alguém nos conta um filme a que assistimos juntos, talvez o faça para nos mostrar aspectos que pensa que não prestamos atenção. Em vez de nos distrairmos durante a sua narração, poderíamos fazer algum comentário que oriente para uma conversação interessante sobre um aspecto desse filme ou sobre um tema derivado dele.
Quando alguém nos diz algo que, no momento, não nos interessa é bom perceber que, através de suas palavras, essa pessoa está nos estendendo a sua mão para que a apertemos. Está nos falando de algo que lhe interessa, para que a compreendamos e a acompanhemos. Se não apertamos essa mão através de nosso interesse e atenção ao que nos diz, quebramos a ponte através da qual poderíamos ter estabelecido ou consolidado a nossa relação. Fugirmos dessa conversação poderia implicar falta de empatia e indiferença em relação a quem não comunga com nossas preferências.
Não só o escape mental é uma forma de não escutar o que alguém diz; manter-se sem falar e às vezes sem olhar para quem está falando é uma maneira agressiva de se retirar de uma conversação ou de se afastar do grupo.
Pode ocorrer que, embora uma pessoa pense que não a escutamos, não nos diga isso porque já o disse outras vezes –com essas palavras ou de outra forma– sem que tenhamos mostrado que a escutamos. Se prestarmos atenção, certamente notaremos que algo enfraqueceu a relação que temos com essa pessoa.
Seria bom, então, que lhe perguntássemos com simplicidade o que aconteceu e, quando ela nos responder, não justifiquemos com explicações o desentendimento que geramos.
Em poucas palavras: ouvimos mas nem sempre escutamos.
Da mesma forma, vemos e nem sempre falamos como se tivéssemos visto.
Permanecer em silêncio perante um fato reprovável, como se fossemos indiferentes ao que acontece, é uma maneira implícita de expressar que estamos de acordo com o que aconteceu, e assim também o interpretam aqueles que percebem esse silêncio.
Mas nem sempre é oportuno expressar o que sentimos ou pensamos a respeito do que está ocorrendo. Convém nos mantermos atentos para medir com prudência nossos comentários.
De acordo com a situação, criticar e condenar abertamente tudo o que nos parece reprovável pode não ser a melhor maneira de expressar a nossa opinião, especialmente quando ninguém pede nem espera que falemos porque não é o momento ou o lugar de fazê-lo, ou não somos a pessoa indicada para julgar nesse momento essas situações.
Para saber quando falar e qual é a melhor coisa a ser dita, convém aprender a escutar.
Escutar não se limita a prestar atenção somente ao que os outros dizem, mas também ao que nos dizem a situação, o momento, o ambiente e a atitude das pessoas com quem estamos.
Escutar é deixar entrar em nós o que vemos e ouvimos, e assim compreender que a nossa melhor resposta é a que evidencia que escutamos. Se não fizermos assim, poderemos fazer uma crítica inoportuna que agravaria ainda mais uma circunstância que já é difícil; ou fazer críticas sem fundamentos que não agregam luz aos juízos de outros e que, além disso, mostram nossa falta de critério; ou continuar com uma argumentação que expresse a nossa rejeição ao que nos dizem.
Escutar é também perceber se os que estão conosco poderiam receber com agrado o que nos ocorresse dizer naquele momento. Às vezes precipitamo-nos em contar, durante um longo tempo, alguma anedota que parece interessante para nós, mas que não o é para os demais ou que não seja agora o melhor momento para contá-la.
Escutar é prestar atenção quando alguém introduz um tema que parece interessar aos presentes. O que essa pessoa diz ao iniciar o tema pode despertar em nós associações que nos movam a interrompê-la para contar algo intranscendente que nos aconteceu e, a partir dali, continuarmos com associações em uma conversa que tornaria impossível voltar ao tema que alguém iniciou e que tinha importância para os demais.
Escutar é, além disso, escutar-nos a nós mesmos quando falamos; perceber se somos rígidos em nossos juízos, condenatorios em nossas opiniões ou se nos perdemos em aspectos menos importantes do tema de uma maneira tal que torna difícil alguém –ou nós mesmos nos lembrarmos– do que dissemos. Se isto ocorresse, mostraria que também não soubemos escutar o eloquente silêncio daqueles que obrigamos a acompanhar nossas divagações.
Escutar a nós mesmos é particularmente difícil quando temos o hábito de falar a todo o momento, quer sejamos convidados ou não a fazê-lo. Não nos damos tempo nem para pensar no que vamos dizer nem para refletir sobre o que dissemos, e é improvável que nossa conversação possa ser interessante ou instrutiva para alguém.
Em um contexto mais amplo escutar é, pelo menos, tratar de compreender a mensagem que nos é dada pelas experiências que vivemos e pelas circunstâncias do meio em que agimos, como também as que a humanidade vive no dia a dia. Receber notícias sem responder a elas, em muitos casos implica bloquear toda novidade que possa nos perturbar, ou ser indiferente e insensível ao que acontece mesmo que não nos afete diretamente. Nestes casos, responder a notícias vai além de dizer palavras; é agir de forma solidária e participativa, de acordo com as circunstâncias. E quando não pudermos colaborar ou ajudar de forma direta, seja porque não estamos capacitados ou porque se trata de fatos que não nos dizem respeito, particularmente, tratemos de incluir em nossa consciência todas as vicissitudes da vida humana, até que nos seja espontâneo sentir que o que acontece em qualquer lugar do mundo também acontece conosco.
Poderíamos chamar de fechada a atitude de não escutar, porque deliberadamente obscurecemos nosso entendimento ao negar-nos a reconhecer o que significam as palavras que nos dizem.
O exercício de escutar consiste em:
Deter as reações que nos induzem a rechaçar o que ouvimos ou a interromper a quem esteja falando
  • Refletir sobre o que nos foi dito
  • Validar o que escutamos
  • Responder e agir em consequência com essa validação
    Espontaneamente ouvimos e espontaneamente falamos. Mas escutar não é espontâneo em nós; é uma arte que é bom aprender. O exercício que propusemos e os descritos mais adiante são meios que nos ajudam a alcançar essa arte. 
Para baixar o livro na íntegra: www.cafh.org - idioma português - publicações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário