sexta-feira, 18 de março de 2016

DISTÂNCIA DO PASSADO - O VALOR DAS PALAVRAS - JORGE WAXEMBERG

Distância do Passado
( o livro pode ser baixado na íntegra acessando: www.cafh.org - idioma português - publicações ).

Ao deixar de nos fixar no anedótico vão se tornando relevantes as ensinanças contidas nos acontecimentos que vivemos.



O passado que recordamos é um conjunto de vivências que temos de ter muito em conta para não repetir erros e melhorar o curso de nossa vida.
Por outro lado, o passado costuma ser fonte de sofrimentos, remorsos, complexos e travas interiores. O passado se introduz em nosso presente e, às vezes, o encobre de tal maneira que não conseguimos distinguir e avaliar com clareza o que está acontecendo. Além disso, experiências passadas podem nos ocasionar transtornos que necessitam de tratamento especializado.
Mas seja como for o nosso passado, costumamos falar sobre ele –com o passar dos anos vamos olhando menos para frente e mais para trás–. Quando o fazemos, referimo-nos principalmente a acontecimentos, triunfos, fracassos, alegrias, dores e surpresas. Ou seja, narramos fatos. Detemo-nos no que é circunstancial, na serie de impressões que ficaram em nossa memória. Quando essas impressões são fortes ficam muito gravadas não só como fatos mas também como emoções e juízos. Mas isto não significa que tenhamos compreendido as experiências e as mensagens que sempre contêm os acontecimentos que recordamos.
Em relação ao passado, o exercício que propomos tem como objetivo colocar à distância a própria história. Para conseguir essa distância nos exercitamos em não fazer referência a nosso passado.
O hábito de não falar de nosso passado nos ajuda a nos desacostumar de olhar para nós mesmos como ponto de referência de todas as coisas. Ao mesmo tempo, ressalta em nossa mente os aspectos fundamentais desse passado.
Além disso, não falar do passado nos ajuda a tirar o valor subjetivo dos eventos que ocorreram e das consequências ocasionais que eles nos produziram: emoções, reações, decisões, juízos. Em especial, ajuda-nos a não reviver e avivar ressentimentos que possamos ter e necessitamos superar. Ao deixar de nos fixar no anedótico vão se tornando relevantes as ensinanças contidas nos acontecimentos que vivemos.
Por que incluímos este exercício no tema das defesas limitantes?
Porque em muitos casos nos refugiamos no passado para fugir do presente e também para justificar o nosso presente.
Por exemplo, se estamos passando por um momento difícil, em que as coisas que fazemos não estão acontecendo a contento, tendemos a nos consolar recordando-nos –e falando– de nossos êxitos passados. Ou então nos justificamos diante de outras pessoas narrando fatos do passado que tornaram inevitáveis as nossas tribulações –ou as nossas reações– do presente.
Em suma, quando nos refugiamos no passado nos isolamos do presente. Enquanto falamos do que já ocorreu não só nós perdemos o que está acontecendo, mas também o perdem as pessoas que nos escutam, já que reduzimos o seu presente à nossa história sobre um passado alheio a elas.
Como o presente continuamente se transforma em passado, ao hábito de não falar do passado se acrescenta o hábito de não falar sempre do que está nos acontecendo. Isto produz um efeito semelhante ao anterior. Conseguimos ser observadores, dentro do possível imparciais, do que vivemos e também do que está acontecendo conosco. Dessa maneira deixamos de dar tanta importância ao anedotário do momento e podemos começar a descobrir a mensagem e a ensinança que continuamente a vida nos dá.
O exercício de nos distanciarmos do passado é uma extensão do exercício de sair do centro e consiste em:
  • Não falar de nosso passado de forma habitual, a não ser quando for necessário ou conveniente nos referirmos a ele.
  • Deter o hábito –caso o tenhamos– de falar sempre sobre o que está acontecendo conosco.
    O exercício de distanciar-nos de nosso passado nos ajuda, por um lado, a conter as fugas de nossa mente e, por outro, a perceber o que está acontecendo aqui e agora em um contexto maior do que aquele limitado a nossa pessoa. Ajuda-nos, em especial, a estarmos realmente com aqueles com que estamos falando, a escutá-los e a compreender suas mensagens. 

Um comentário:

  1. Interessante o enfoque do texto é importante trabalhar com o que se chama de anedótico e outra o que tem tocado o coração lembrar não é um mero trabalho mental.O passado faz parte do que o ser humano é, constitui sua forma de se expressar, sua natureza.O nosso trabalho é desapegar-nos do que nos mobiliza ao lembrar do passado sabendo que o amor hierarquiza o valioso, então lembrar é da mente e recordar vai junto ao apagar as paixões, onde o grande amor é resultado de ter vivido as experiências pelas quais todo ser humano passa ao longo da vida, desenvolvendo um coração amoroso.

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